Seguidores

Recanto das letras

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A MENINA DO SINAL


      Quantas vezes por esta esquina passei, na certa ela lá estava, eu devo tê-la visto, mas nunca verdadeiramente a olhei.
      Hoje ao lhe alcançar a moeda, nossos olhos se encontraram, não sei por que, mas eu a olhei e vi sua mão pequena, suja, machucada, enquanto meus dedos, ela levemente tocava.
     -Sabe tia, falou, “sempre, fico aqui até tarde da noite, porque se não levar dinheiro, não posso entrar em casa.”
     -Minha mãe, coitada, sete filhos, quatro mais novos que eu, tenho oito anos, ela está doente, acho que de fraqueza, não sei.
     -Ontem quando eu ia logo ali, um homem se aproximou de mim, para aquela rua deserta me arrastou, eu gritei muito, ninguém me socorreu, mas quando ele me atacava, alguém se aproximou, nele colocou sua mão, e ele se paralisou, não sei o que houve, mas para casa corri, lá ainda apanhei, meu padrasto não perdoa, se não levar dinheiro não come, apanha e vai dormir com fome.
     -Mas tia, eu jurei, vou estudar, vou ser alguém, e aos meus irmãos, ainda vou salvar.
     Ainda me disse “Eu estou bem, mas acho que não mereço, e também para aquele que me salvou não posso agradecer, eu nem sequer o conheço”.
     Quando me dei conta, o sinal havia aberto, meu carro já andava, e tive plena certeza de que com a menina nenhuma palavra eu trocara.
    “Foi naquele instante, no toque dos dedos, no encontro de nossas almas que o milagre se deu, contou-me toda sua história, só com o olhar, sem nem uma palavra pronunciar, e eu nem pude lhe dizer quem a salvara, e que ela era um anjo, porque com certeza, os anjos sempre são protegidos por Deus...”
 
       Lani     

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A ARVORE DA VIDA


     Estivestes aqui, por minha vida inteira, á tua sombra, de bonecas brinquei, me alfabetizei, de teu fruto comi, meu primeiro romance li, e contigo meus primeiros sonhos dividi.
     Quando eu era pequenina abraçar teu tronco tentava, mas meus braços, tua volta não alcançava, á medida que crescia eu insistia, porque este abraço te dar, eu muito queria.
     Lembro, quando chovia, sob teus frondosos galhos ficava, minha mãe preocupada me chamava, mas eu sabia, que estando ali contigo, nenhum perigo eu corria.
     Hoje, depois de uma vida compartilhada, me dizem que terás que ser cortada, tuas raízes, envelheceram, teu peso não mais suporta, e eu impotente, vou te ver cair, sem vida bem aqui na minha frente.
     E os pássaros que em ti, ano após ano, fizeram seus ninhos, quando vierem para mais uma ninhada não vão te achar, como sempre, ali parada, os esperando, acolhendo, e se sentirão, como eu me sinto agora, como quem perde alguém muito querido, impotente, sem poder fazer, absolutamente nada.
     Foi tua ultima noite, vim te ver agora, bem cedinho, queria fazer só, a minha despedida, obrigada amiga, por tanto tempo, ser minha companheira, não posso ficar  aqui, para ver tua queda derradeira.
     Quem chegar agora dirá que é orvalho, que de teus galhos cai com abundancia, mas eu sei, como eu tu também choras, minhas próprias lágrimas que guardaste contigo, durante nossa vida inteira.   


            Lani


AOS QUERIDOS AMIGOS DEIXO ESTA CRÔNICA, NA SINCERA ESPERANÇA DE QUE GOSTEM, E DEIXEM SEU RECADO.
zilanicelia@gmail.com

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A PROCURA DE DEUS

       Um dia senti que já era hora de achá-lo, com uma mochila nas costas, e muita esperança, parti.
       Minha mãe chorou, meu pai tentou me impedir, mas eu fui, sem nem olhar para trás,eu tinha de procurar.      
      -Vou começar pelo fundo, é lá que ele deve estar, e num submarino, me esgueirei, com ele fui até as profundezas, mas lá não o encontrei.
       Por estradas caminhei, passei fome, medo, cansaço, pelo frio quase me entreguei, mas pela certeza de poder encontrá-lo, a tudo suportei.
       Subi aos Andes, com pedras feri meus pés, e lá no alto cheguei, mesmo quase desfalecendo, sem poder respirar, senti, que era só levantar minha mão, para uma estrela pegar,“é aqui pensei" mas o cansaço me venceu, dormi e me pus a sonhar.
   -Minha mãe em meu sonho estava, e como quando eu era menino, e por ele indagava, colocava o dedo em meu peito, no coração, e pressionando dizia, “é só aqui filho que poderás achá-lo”, eu, criança, não entendia, e em minha procura, persistia, eu precisava muito encontrá-lo.
       Ao acordar, lá no alto, exausto, quase um frangalho, pés feridos, corpo doído, sem estrelas alcançar, minha mão apoiada no peito,enquanto eu dormia,pesava,como quando minha mãe me mostrava e com abnegação, entendi, que não precisava sofrer, ir longe, porque quem eu procurava, sempre esteve comigo, em meu peito, bem aqui... Dentro do meu coração!


Lani

AOS AMIGOS QUE AQUI ESTIVEREM, MEU OBRIGADO, E A CERTEZA QUE VOU VISITÁ-LOS TAMBÉM.
SEU COMENTÁRIO É MUITO IMPORTANTE PARA MIM.
ABRÇS

sábado, 15 de outubro de 2011

AMOR

Inconstante sentimento,
Não sei por que te chamas amor,
Se por ti já vi gente chorar,
Sofrer, sentir muita dor.

Chegas sempre de mansinho,
Mas aos poucos tu tomas conta,
Vais fazendo o que queres,
Lutar contra ti não adianta.

Ás vezes és harmonioso,
Muitas outras avassalador,
Nunca pedes para entrar,
Do coração és o senhor.

Te entregas de corpo e alma,
Quando és correspondido,
A vida segue na calma,
E ninguém nunca sai ferido.

Se, no entanto só um sente,
Não poderás ficar,
Amor tem que ser a dois,
Para nenhum se machucar.

Por isto saia daqui,
Não vou mais me arriscar,
As vezes que te senti,
Fiquei sempre a chorar.

Te suplico, vá embora,
Não quero mais sofrer,
Amor anda, vá logo,
Para eu não me arrepender!


Lani

QUERIDOS AMIGOS, AGRADEÇO DE CORAÇÃO
A ATENÇÃO DE VOCÊS NESTA VISITA DEIXEM
SEMPRE UM RECADO.
ABRÇS

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FIM DE UM AMOR

Os dois frente a frente, amor acabando,
Tanto tempo juntos,
Relação se deteriorando,
Ele decidido, ela implorando.

Não quer deixá-lo ir embora,
Sabe que amor ainda existe,
Não podem se separar,
É apenas uma crise.

Depois dos filhos criados,
Deveria ter melhorado,
Mas ao se verem sós... Juntos,
Não havia mais assuntos.

E a vida traiçoeira,
Esqueceu de lembrar a ele,
Que nos momentos bons e nos tristes ,
Ela foi, sua companheira.

Os anos passando,
Deixaram seus recados,
Muitas rugas nos olhos,
Cabelos esbranquiçados.

Um coração, fiel, amando,
O outro por outra suspirando,
Mala na mão que dá adeus,
Porta atrás dele, se fechando.

A solidão daquele momento,
Suas entranhas rasgando,
Corpo dobrado, soluçando,
E uma lágrima solitária, de seus olhos rolando...


Lani

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

CACHORRO DE RUA

      Sou eu mesmo, é nesta que vivo, passo fome, maus tratos, noites inteiras caminhando, muitas vezes na chuva, nas outras acho um cantinho, me deito e apesar do frio, durmo, para poder sonhar com minha vida de antes...  Nem sempre vivi assim.
     Nasci numa casa, minha mãe me amamentava, ainda posso sentir o cheirinho de seu leite, tive vários irmãozinhos, brincava muito com eles, á noite nos enroscávamos, e dormíamos quentinhos e quando dava fome, ela estava ali, me alimentava e eu dormia de novo, era tão bom, sinto muita falta disto!
     Eu não tive muita sorte, tenho uma pata mal formada, e quando caminho, sou desengonçado, por isto minha dona vendeu meus irmãozinhos, mas, quem iria querer um cão como eu? (Mas eu juro, se ela tivesse ficado comigo eu faria de tudo por ela).
     Estou sempre á procura de minha mãe, ela não vai me reconhecer de tão sujo e maltratado que estou, mas eu vou, não vão pensar que foi ela quem me colocou no lixo, uma mãe canina, nunca faria isto. Quando nossa dona me pôs e arrancou o carro, eu corri muito atrás, mas com esta pata, não consegui alcançá-las, pela janela, pude ver minha mãe chorando, ir embora para sempre, por isto sei que ela estava triste.
     Na rua tenho vivido, comendo coisas do chão, estou feio, sujo, mas quando uma pessoa se aproxima de mim, eu a olho bem nos olhos, quem sabe alguém vai ver que sou manso e carinhoso, eu gostaria de poder lamber-lhe as mãos para demonstrar isto, mas, eles têm medo de mim, até me chutam para eu me afastar.
     Por isto te peço, se souberes de alguém, que possa me dar uma chance de novo, diga a ele, que eu durmo no pátio, não precisa comprar ração, eu como qualquer coisa, diga também, que não vai se arrepender sou manso, fiel, sou também muito corajoso, vou ser seu amigo para sempre, vou defender a ele e sua família com minha vida se preciso for, diga isso a ele,  por favor...
    

                                                                                          Lani

terça-feira, 4 de outubro de 2011

MÃE GUERREIRA


     E lá vem ela, ferida, machucada,
     Tem na testa, um curativo,
     O corpo doído, com hematomas, todo marcado,
     Não tem como por todos, não ser notado!

     Mas com dignidade, e cabeça alta,
     Ela vem, enfrentando a ribalta,
     É a artista, a malabarista,
     Se apresentando, no palco da vida.
 
     Quem a vê, hoje na rua, altiva, não compreende,
     Como pode andar assim, depois do acontecido,
     Junto com ele, novamente,
     Se seus gritos na noite doeram, a quem somente os tenha ouvido?

     Pode- se ver que ainda é jovem, e até bonita,
     Enfrentando esta desdita,
     Caminhando ao lado do homem,
     Que ontem á noite lhe causou tanta ferida.

     Na alma e no corpo, está machucada,
     As mágoas, do corpo serão curadas, mas as da alma ficarão para sempre,
     Pois quem lhe causou tanta dor, não foi ele...
     Foi quem ela carregou, por nove meses no ventre!

     Era o filho, viciado, das drogas dependente,
     Que na noite a havia agredido...
     Mas, vai lutar, se preciso for, para sempre,
     Para curar seu filho, para ela um doente!

     Sabe que ainda passará, por isto de novo,
     No dia seguinte, com vergonha, enfrentará o povo,
     Não permitirá que seu filho, seja mais uma estatística,
     E dele ver tirar uma bala do peito, para exame de balística!


                                                                                  Lani